Atendimentos e Disfunções

Endometriose e dor pélvica crônica

A endometriose é uma doença inflamatória provocada por células do endométrio (tecido que reveste o útero), que surgem em outras partes do corpo e multiplicam-se provocando sangramentos e dor. Ainda de causa desconhecida a endometriose pode afetar locais diversos como a cavidade abdominal, pélvica, peritônio (que é a camada que recobre os órgãos abdominais), a superfície uterina, o colo do útero, os ligamentos uterinos, as trompas e os ovários, o intestino grosso e a bexiga. Menos frequentemente pode atingir também o umbigo, a parede abdominal, a cavidade torácica (pulmões), etc.

Dentre os tratamentos disponíveis para endometriose estão as terapias hormonais e a cirurgia para controlar o avanço da doença mas esse tipo de abordagem muitas vezes não resolve totalmente a dor. Em alguns casos a localização da lesão não se correlaciona com o local em que a paciente refere como o mais doloroso, portando as duas abordagens citadas anteriormente acabam não sendo totalmente eficazes para a dor crônica.

Acredita-se que ocorra na endometriose um “brotamento neural”, ou seja, a ramificação dos vasos sanguíneos durante o desenvolvimento da lesão permite a invasão simultânea dos nervos, e uma ativação do sistema nervoso durante o desenvolvimento da lesão, pois os nociceptores (terminações nervosas que são responsáveis pela percepção da dor em resposta a um estímulo nocivo) são especialmente sensíveis a fatores imunológicos e inflamatórios que são prevalentes na endometriose. Essa sensibilização manifesta-se clinicamente pela alodinia (dor a um estímulo não nocivo), hiperalgesia (aumento da dor a um estímulo nocivo) e dor referida (dor percebida fora da área de estimulação nociva).

A dor pélvica crônica (DPC) é definida como dor no baixo ventre (abaixo do umbigo), fora do período menstrual, de duração superior a 6 meses, severa o suficiente para ocasionar limitações funcionais, e é uma das manifestações clínicas mais comuns da endometriose. A dor é um sinal de alerta para proteger o nosso corpo de estímulos nocivos, mas a dor crônica não deve ser considerada normal, pois ela persiste mesmo depois que a lesão já foi resolvida.

Comumente, a dor relacionada à doenças viscerais é sentida em estruturas musculares inervadas pelo mesmo segmento da coluna vertebral, podendo também produzir o aumento do tônus ​​muscular e espasmos, geralmente na área de referência da dor.

Uma outra característica que pode ser encontrada nos pacientes de dor crônica, é a presença de pontos gatilhos miofasciais (PGMs), que são nódulos pequenos, palpáveis e extremamente dolorosos, localizados na área sintomática, na musculatura estriada esquelética em estado de tensão. O ponto gatilho pode ser espontaneamente doloroso ou apenas ao toque, também podem causar problemas motores, e afetar a função dos órgãos viscerais.

Quando o ponto gatilho localiza-se no assoalho pélvico o paciente pode referir dor na uretra, vagina, reto, cóccix, sacro, parte inferior das costas, parte inferior do abdômen e posterior das coxas, dor na relação sexual, dor ao urinar, defecação dolorosa etc. Cirurgias ginecológicas, parto, lesões, abuso sexual, dor na relação sexual, alterações biomecânicas também podem contribuir para a formação dos PGMs no assoalho pélvico.

Estudos já comprovaram a associação de PGMs à endometriose, uma vez formados e ativos os pontos de tensão podem se tornar um fonte de dor contínua. Esses pontos de tensão que se desenvolvem de forma secundária à doença podem sustentar a dor e a disfunção apesar da remoção da lesão e da hormioterapia, por isso também merecem atenção devendo ser tratados. Os pacientes de dor pélvica crônica se beneficiam muito com o tratamento através do alivio da dor relacionada ao pontos de tensão e de estratégias de enfrentamento para redirecionar foco durante um episódio doloroso.

A fisioterapia pélvica não trata a endometriose propriamente dita, ela combina estratégias para controlar a dor e normalizar a tensão muscular e a sensibilidade. Com terapias manuais, técnicas de liberação miofascial e outros recursos terapêuticos diversos consegue proporcionar uma melhor qualidade de vida a esses pacientes.

Você não precisa conviver com a dor, procure tratamento especializado!

Dra Viviane Ferraz Monteiro Fernandes

Especialista em Fisioterapia Pélvica, há mais de 12 anos
Crefito-11/158873-F